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   Ademir Pereira trabalha à noite há 12 anos, diz que já está acostumado mas que preferiria o turno do dia pela convivência com a família. Os reparos são feitos em toda a Grande São Paulo durante a madrugada. Ele diz que apesar da comodidade há certa insegurança: “já tive amigos atropelados durante a noite”. Ele e sua equipe fazem os últimos ajustes da ciclovia. O turno na paulista é das sete da noite às quatro da manhã, quando termina ele ainda volta para Guarulhos, onde mora.

   José Alves trabalha de madrugada há dois anos. Se gosta mais do dia? A resposta é sim, diz que tem mais vida social. Exatamente por isso, gosta da tranquilidade da noite para cuidar das estações de metrô. Seria inviável fazer qualquer manutenção durante o dia devido ao número de usuários e o vazio chega a causar estranhamento: “é muito diferente”. Já Fábio Brito, que megulha nas madrugadas desde o começo do ano ainda não se acostumou.

PELOS TRILHOS
PELOS RETOQUES

   Juscelino da Silva Neres trabalha há quase oito anos colocando e arrumando a sinalização das vias. Os turnos são intercalados entre meses, ou seja, um mês sim - um não, ele passa a madrugada na rua. Diz que o horário é indiferente, mas que à noite é bem mais tranquilo. Quando o assunto é a Avenida Paulista vai logo dizendo: “Em questão de trabalho, pra gente, a noite é bem melhor; dia é complicado por causa do trânsito”. A missão do dia é repintar faixas de pedestre gastas, “pra fazer um cruzamento, num dia tranquilo, leva de 10 a 15 minutos”.

 

PELOS TEMPOS

   Alan Muniz tem 46 anos e distribui jornais para as bancas da Avenida Paulista e região durante a madrugada. Ele sai de casa meia noite e só para de trabalhar depois do meio dia, isso de segunda a sexta feira - faz isso há 15 anos. A convivência com a família é pouca e ele diz que já se acostumou. “É melhor porque você trabalha mais à vontade, mas fazer o que? A gente não tem muita opção, ‘cê’ aprende a profissão, tem que ir”.

 

 

 

   Celso Toffoletto trabalha na única banca de jornal 24h da Avenida Paulista há dois anos, mas faz apenas seis meses que foi para o turno da noite. Ele não gosta, diz que bom mesmo é trabalhar durante o dia. Apesar do movimento noturno, durante o dia é bem mais agitado e o dia passa mais rápido. “De noite ela é eclética, tem dia que ela tá boa, tem dia que tá parada”.

 

PELOS EXCESSOS

 

                         

 

 

 

   Entulho e outros materiais não podem sair dos prédios de São Paulo durante o dia, por isso Fábio Emerick despeja os destroços da reforma do prédio na caçamba durante a madrugada. É um apaixonado pela cidade, diz que o trabalho noturno só é ruim quando chove. “Prefiro trabalhar à noite, sou bohêmio”.

   Wilson Sarmento trabalha na CET há 6 anos e confessa que prefere trabalhar à noite porque ganha mais, mas garante que durante o dia a moeda é a saúde. Apaixonado pela Paulista, ele diz que é um lugar que gosta de estar.  Ele conta que nem só a CET aparece por lá: toda a manutenção elétrica, nos faróis, nas obras dos canteiros, na pintura de faixas. “É uma avenida bonita em qualquer momento”, finaliza.

 

José Alves, funcionário do metrô.

Juscelino da Silva Neres, responsável pela manutenção da sinalização das vias. 

Alan Muniz, entregador de jornal. 

Celso Toffoletto, funcionário de uma banca de

jornal 24h.

Raimundo Ferreira Gomes, gari. 

Trabalhador se empenha para deixar tudo pronto para a inauguração da ciclovia na Av. Paulista. 

   Raimundo Ferreira Gomes tem 47 anos e há vinte varre as vias e deposita o lixo em uma das ruas principais próxima à avenida: ora na Joaquim Eugênio, ora na Alameda Campinas, entre às 2h30 e 3h30 da madrugada, para que o caminhão da Prefeitura de São Paulo recolha os excessos de um dia caótico. Sereno, o gari afirma que gosta do escuro: “É um horário bom. Eu gosto muito de trabalhar em silêncio. De noite dá para você pegar o ônibus vazio, ir e vir numa boa.”

TRABALHAR À NOITE não é fácil. A rotina para quem começa o expediente com o cair da luz é repleta de obstáculos e nem sempre os direitos se fazem valer. De acordo com a Consolidação das Leis de Trabalho, a CLT, com o Ministério do Trabalho, a jornada noturna acontece das 22h às 5h. Ela não é calculada como as horas de trabalho diurnas, que valem 60 minutos: cada hora noturna é reduzida em 12,6%, ou seja, acaba valendo como 52,30 minutos. No bolso Além disso, há um adicional salarial – um dos grandes atrativos para se mudar de turno, segundo os nossos entrevistados. O funcionário deve receber um acréscimo de 20% sobre a hora diurna em seu salário, no entanto, quem trabalha em algum sistema de revezamento semanal ou quinzenal não tem direito a esse dinheiro. Também tramita na Câmara dos Deputados um projeto que prevê um aumento desse acréscimo. Se aprovado, o funcionário passaria a ganhar 50% a mais caso comece a trabalhar depois das 21h – uma hora antes do previsto na lei vigente.

 

NA SAÚDE

   O projeto é de autoria do ex-deputado Vicente Seliste, ex-deputado pelo PSB, e afirma que segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS, trabalhar à noite aumenta o risco de se desenvolver câncer. Isso, pois, também segundo estudos, agora da Universidade de São Paulo, os hormônios melatonina e cortisol, bem como as citocinas inflamatórias salivares sofrem uma desregulação em sua produção, o que pode ser um indicador para diversas doenças, como o câncer. Além, é claro, das alterações do sono. O trabalhador noturno não consegue cumprir o índice saudável de horas de sono, que gira em torno de 7 ou 8. Isso acontece, pois, ainda que tirando sonecas em casa, o corpo sinaliza que esse não é um bom horário para estar dormindo. Resultado: essa pessoa dorme menos e com uma qualidade bem inferior ao que é esperado. Na vida pessoal Não bastasse o excesso de estresse, até fisiológico, que é causado pelo cortisol, os trabalhadores também sofrem com impasses na vida pessoa. Além de enfrentarem, muitas vezes, o pesar da família pela rotina de trabalho, também vivem constantemente com medo da violência e dos acidentes que acontecem na calada da noite.

 

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